Caridade

Hoje foi o dia da caridade muçulmana pra mim. É engraçado quando as coisas parecem se repetir, não é? Antes de contar das caridades, vou falar um pouco da minha turma.

Os lugares na sala de aula são marcados e eu, não sei se por sorte ou por azar, fiquei na primeira fileira no meio, de cara pros professores... Tudo bem, a vantagem é que eu enxergo melhor daí... De um lado senta o Samuel, de Gana, e do outro o Abdul, da Arábia Saudita. Eu fiquei com medo do Abdul achar muito estranho essa história de ter mulher na mesma sala de aula que ele, estudando e podendo discutir e tals, mas felizmente ele foi sempre muito gentil comigo, apesar de não se misturar muito com a turma em geral nos almoços e passeios. Bom, nós acabamos fazendo os exercícios junto na aula, conversando muito sobre futebol, viagens aqui por perto, dicas de restaurantes e lojas - Uma excelente companhia pra esses dias de curso. Uma das coisas que eu acho mais divertida é ver ele escrevendo chat em árabe cheio de smiles sorrindo, pensando, chorando, bravo... Fica mega engraçado.

Hoje quando eu saí do curso, estava pensando em ir no shopping quando passou o ônibus que ia pra lá - isso acontece de uma em uma hora, então eu nem pensei duas vezes, entrei logo nele. Só que depois de um quarteirão contando as minhas moedinhas, me dei conta que eu não tinha os CAN $2,25 que eu precisava pro ônibus (tem que ser troco exato, porque voce joga as moedas numa máquina que conta o dinheiro e te libera sozinha). Perguntei pro motorista se ele podia trocar CAN $20, mas ele fez cara de que não tinha a menor chance e nem sequer ofereceu de me deixar sair - eu tinha que me virar. Perguntei pra uma senhora na primeira cadeira se ela podia trocar a minha nota de 20 e ela não tinha mas ofereceu de me dar o que faltasse. Antes dela conseguir contar o dinheiro, uma moça muçulmana me deu os $2,25 que eu precisava, feliz da vida. Mega fofa a menina, de calça jeans, mochila rosa, um moletom rosa também e um lenço preto envolvendo o rosto. Isso é coisa que não se vê no Brasil... Voltando ao assunto: claro que eu estava um pouco sem graça de receber dinheiro de caridade assim, mas acho que a moça deve ter ficado feliz de ajudar, então tudo bem. E a senhora ficou falando que isso de não ter troco pode acontecer com qualquer um, que poderia ser ela na próxima vez, e que é legal as pessoas se ajudarem quando podem. Bacana, não foi?

Essa foi a caridade numero um. Vamos à numero dois: depois de uma hora e meia passeando no shopping comprando vitaminas e rímel e um presente pra mami, eu estava na loja de coisas pra casa olhando o saca rolha quando o Abdul apareceu falando "Hi Roberta!" e eu finalmente conheci a mulher dele, que é uma fofa, mas que infelizmente não fala inglês e não deu pra interagir muito. Ela também estava de calça jeans, camisa vermelha com manga comprida e lenço branco. O filho deles de uns 2 anos estava todo sujo de sorvete de chocolate e aí ela ficou pedindo pra ele pedir desculpas por isso. Muito engraçado.

A segunda caridade muçulmana do dia foi que eles me ofereceram uma carona de volta pro dorm, o que foi realmente maravilhoso, porque eu provavelmente ia ficar uma hora esperando por um ônibus. Fiquei muito agradecida. O menininho veio o tempo todo brincando com um carrinho e falando "siera, siera, vruum, vruum" (siera = carro), o Abdul pareceu ser um pai até bem jeitoso com o filho, e louco pela mulher dele. Deu pra ver que essa família não é tão diferente das dos meus amigos. Show de buela.

=)