Ok, ok, ok... Vocês venceram! Eu queria complementar o assunto do último post “O fim de tudo o que é meu” com a história de quando eu comecei a questionar a propriedade privada, mas acabei não sentando pra escrever... Eu adoro escrever, mas demoro bastante – falta de prática! Vou postar, mas já aviso: o post vai ficar enorme por falta de tempo pra juntar idéias e reduzir o texto!
Contando assim, sem ensaio, a história começa com a minha mãe com um chinelo na mão correndo atrás de uma barata enorme, e gritando “Sua desgraçada, sai da minha casa! Não entra embaixo do sofá não!!!” Isso aconteceu em algum momento entre eu parar de comer carne (2000-2001) e sair da faculdade de filosofia (2003-2004), nos meus anos mais reflexivos e meditativos.
Quem conhece a minha mãe sabe que ela é um amorzinho e como é difícil imaginar essas agressões verbais saindo da sua boca... E eu, que andava estudando a Bhagavad Gita e me identificando com tudo e todos à minha volta, simpatizei imediatamente com aquele inseto asqueroso e fui à sua defesa: “Mamãe, não precisa agredir, ela não sabe que não pode entrar aqui...”
Então descobri: não tem nenhuma lei natural que instaure o direito dos homens pela propriedade privada! Pronto, ela passou a ser falsa pra mim! Uma convenção social arbitrária e injusta, que poderia deixar de existir se nós conseguíssemos pensar em um modelo melhor. Entendi a Utopia, entendi os comunistas, entendi!
Por mais que eu tenha refletido, não consegui imaginar uma vida civilizada sem esse direito social básico. Eu imagino que todo estudante de filosofia ou de ciências sociais passe por questões como essa, no meu caso ela foi resolvida quando eu estudei um pouquinho – bem pouquinho mesmo – de ciências sociais...
Desde então, a assunto virou piada. Daquelas que poucos entendem, e geralmente só eu rio... Umas duas semanas atrás na sala de reuniões aqui da Transpetro, nos deparamos com um animal em cima da mesa:
Uma colega: “O quê que é isso? Uma lesma???”
Chefe: “O que ela está fazendo aqui? Mata ela!”
Eu: “Eca, não mata não! Vai ficar tudo sujo! A coitadinha não sabe que não pode entrar aqui...”
Chefe: “É, como ela entrou sem crachá?!? Mata ela! Vamos mostrar a todos o que acontece quando alguém entra aqui sem crachá!”